* Mãe Sheila é Iyàlorisà. Foi iniciada no Rio de Janeiro em 1976 por Josertina da Cruz Lessa (Mameto Oya Ice), filha de santo de MonaDewi, também conhecida como Vó Nanã, fundadora de uma conceituada casa de tradição Banto em Aracajú-SE da raiz Bate Folha. Na década de 80 passou a fazer parte da nação Ketu ao tomar suas obrigaçõs na raiz do Gantois. Em 1993, fundou sua "Casa de Santo", o Ilé Àse Àáfin Àbàmì Òsun, em Campos Elisios - Duque de Caxias, região metropolitana do Rio de Janeiro, onde funcionou por alguns anos, e hoje é situada na Vila Angélica, Chácara 87 da QD 47 - Jardim Recreio - Piabetá, é divulgadora e defensora da Cultura Afro e Afro-brasileira. Desenvolve um trabalho comunitário bem como de exclarecimento e entendimento aos seus filhos de santo, e procura informar ao máximo o povo em geral, através de programas de rádio e palestras, a respeito da cultura e da religiosidade afro que já foi tão reprimida no passado, e é discriminada ainda nos dias de hoje.

sábado, 18 de setembro de 2010

Orisà: África / Brasil “Candomblé Religião de fato”

O Orisà é uma força pura, Asè imaterial que se torna perceptível aos seres humanos, incorporando-se em um deles, possibilitando ao Orisà, voltar a terra para saudar e receber provas de respeito dos que o evocam. Nas cerimônias de adoração ao ancestral divinizado, que ao incorporar-se ao iyawo, reencontra, por alguns instantes, sua antiga personalidade espiritual, com suas qualidades e seus defeitos, seus gostos, suas tendências, seu caráter agradável ou agressivo, voltando assim, momentaneamente a terra, entre seus descendentes, durante cerimônia de evocação.
Os Orisà dançam diante deles e com eles, recebendo seus comprimentos “ouvem suas queixas, concedem graças, resolvem suas desavenças e consolam seus filhos. O mundo celeste não está distante, nem superior, e os crentes podem conversar diretamente com as divindades e aproveitar da sua benevolência”.
Na África cada Orisà estava ligado, originalmente, a uma cidade ou a um país inteiro. Tratava-se de uma série de cultos regionais ou nacionais, Sangò em Oyò, Iemònjá em Egbò, Ýewá em Egbado, Ogun em Iré, Ekiti e Ondò, Osun em Osogbo, Ilesa e Ijebú, Erinlè em Olobù, Logunede em Ijesa, Otin em Inisa, Osaala-Obatala em Ifè, subdividido em Osolufan em Ifam e Osogiyan e Ijigbó, dentre outras. E em cada uma dessas regiões, se cultua um único Orisà, ou seja, cultua-se o Orisà Patrono da cidade/aldeia/região, onde todos são adoradores/descendentes de uma mesma divindade, de um mesmo Orisà.
A qualidade das relações entre um indivíduo e seu Orisà, é diferentes, caso ele se encontre na África ou no Brasil. Na África, a realização das cerimônias de adoração ao Orisà é assegurada pelos sacerdotes designados para tal, ou seja, sacerdote de uma região e de um único Orisà.
No Brasil, ao contrário, cada um tem que assegurar pessoalmente as minuciosas exigências do Orisà, tendo, porém a necessidade de encontrar em uma casa de Asè, um meio onde se inserir a um (a) Sacerdote (a) capaz de guiá-lo e ajudá-lo a cumprir corretamente as suas obrigações em relação a seu Orisà.
Existe, porém uma lenda sobre Ilé Ifè, onde diz que a terra se espalha criando uma grande sociedade entre povos africanos... No Brasil, temos essa importante representação dentro das casas de Àse. A “cumieira”, onde representa o orun (céu) e o “ariasè”, representando o ayé (terra). A partir daí, se cria uma grande sociedade, o egbè. E a terra gira representada pelos Orisà... Dançando, festejando, abençoando e transmitindo toda a força do Àse em torno desse egbè.
"A religião foi, certamente, uma das práticas mais combatidas nos povos trazidos da África. Do púlpito à corte, as práticas religiosas de origem africana foram estigmatizadas e satanizadas, sofrendo, inclusive, a repressão policial. Graças unicamente à proteção divina e à resistência negra, permanecem, hoje, mais florescentes que ontem". "Mesmo com o clima mais favorável para o ecumenismo e o diálogo religioso que se criou após o Concílio Vaticano II - continua - ainda são fortes os preconceitos e a distância de católicos e protestantes em relação à religiosidade de origem africana". Por isso, o primeiro desafio é "a eliminação, por parte dos agentes de pastoral hierarquizados ou não, da ignorância e do preconceito rasteiro". E denuncia a discriminação religiosa que chega a assumir traços de hipocrisia: “Há sacerdotes que com imponência, negam a ‘Comunhão’ a uma pobre Mãe de Santo que dedica a sua vida reunindo nos ‘terreiros’ os pobres mais pobres para que se sintam gente e filhos de Deus. Entretanto, estes mesmos padres não negam a ‘Comunhão’ e as restrições não são feitas aos políticos corruptos e aos governantes”.
O diálogo religioso e, mais do que isso, o espírito e a prática da ecumenicidade devem ser também um comportamento em relação às chamadas religiões afro". Para alguns Padres e Freis (amigos), não só olha-se para o terreiro para resgatar as raízes culturais negras, mas também para reconhecer a ação do mesmo Deus da Vida que protege e liberta seu povo. É um Deus conhecido, familiar, próximo: "O Àse é a Igreja do pobre mais pobre, ampliando o conceito de Igreja e tomando-o como o lugar onde os homens e as mulheres de boa vontade se reúnem a partir da fé. Não em qualquer fé, mas a fé no Deus da Vida. E o Deus do Candomblé é o Deus da Vida, é o Deus do Àse. Recebemos assim, mais do que uma descrição de ritos e mitos. Eles nos ajudam a percorrer o caminho certo de aproximação, dentro do respeito da alteridade cultural e religiosa, na necessária contextualização histórica e social de dominação e discriminação, à procura das manifestações do Deus da vida nas comunidades oprimidas, num espírito de acolhida e de fé.
Parto do principio, que o Universo seria pequeno para abrigar a dois ou mais Deuses, por tanto, somos “Todos” filhos de um único Deus Perfeito!

Àse

Um comentário:

  1. Mãe, motumbà!
    O blog está excelente!!! É maravilhoso a oportunidade que nos dá de termos acesso a tudo isso de onde quer que estejamos. De manhã, um horário vago no trabalho, enfim... É sempre uma aula da cultura africanista! rs.

    Beijos!

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