O Orisà é uma força pura, Asè imaterial que se torna perceptível aos seres humanos, incorporando-se em um deles, possibilitando ao Orisà, voltar a terra para saudar e receber provas de respeito dos que o evocam. Nas cerimônias de adoração ao ancestral divinizado, que ao incorporar-se ao iyawo, reencontra, por alguns instantes, sua antiga personalidade espiritual, com suas qualidades e seus defeitos, seus gostos, suas tendências, seu caráter agradável ou agressivo, voltando assim, momentaneamente a terra, entre seus descendentes, durante cerimônia de evocação.
Os Orisà dançam diante deles e com eles, recebendo seus comprimentos “ouvem suas queixas, concedem graças, resolvem suas desavenças e consolam seus filhos. O mundo celeste não está distante, nem superior, e os crentes podem conversar diretamente com as divindades e aproveitar da sua benevolência”.
Na África cada Orisà estava ligado, originalmente, a uma cidade ou a um país inteiro. Tratava-se de uma série de cultos regionais ou nacionais, Sangò em Oyò, Iemònjá em Egbò, Ýewá em Egbado, Ogun em Iré, Ekiti e Ondò, Osun em Osogbo, Ilesa e Ijebú, Erinlè em Olobù, Logunede em Ijesa, Otin em Inisa, Osaala-Obatala em Ifè, subdividido em Osolufan em Ifam e Osogiyan e Ijigbó, dentre outras. E em cada uma dessas regiões, se cultua um único Orisà, ou seja, cultua-se o Orisà Patrono da cidade/aldeia/região, onde todos são adoradores/descendentes de uma mesma divindade, de um mesmo Orisà.
A qualidade das relações entre um indivíduo e seu Orisà, é diferentes, caso ele se encontre na África ou no Brasil. Na África, a realização das cerimônias de adoração ao Orisà é assegurada pelos sacerdotes designados para tal, ou seja, sacerdote de uma região e de um único Orisà.
No Brasil, ao contrário, cada um tem que assegurar pessoalmente as minuciosas exigências do Orisà, tendo, porém a necessidade de encontrar em uma casa de Asè, um meio onde se inserir a um (a) Sacerdote (a) capaz de guiá-lo e ajudá-lo a cumprir corretamente as suas obrigações em relação a seu Orisà.
Existe, porém uma lenda sobre Ilé Ifè, onde diz que a terra se espalha criando uma grande sociedade entre povos africanos... No Brasil, temos essa importante representação dentro das casas de Àse. A “cumieira”, onde representa o orun (céu) e o “ariasè”, representando o ayé (terra). A partir daí, se cria uma grande sociedade, o egbè. E a terra gira representada pelos Orisà... Dançando, festejando, abençoando e transmitindo toda a força do Àse em torno desse egbè.
"A religião foi, certamente, uma das práticas mais combatidas nos povos trazidos da África. Do púlpito à corte, as práticas religiosas de origem africana foram estigmatizadas e satanizadas, sofrendo, inclusive, a repressão policial. Graças unicamente à proteção divina e à resistência negra, permanecem, hoje, mais florescentes que ontem". "Mesmo com o clima mais favorável para o ecumenismo e o diálogo religioso que se criou após o Concílio Vaticano II - continua - ainda são fortes os preconceitos e a distância de católicos e protestantes em relação à religiosidade de origem africana". Por isso, o primeiro desafio é "a eliminação, por parte dos agentes de pastoral hierarquizados ou não, da ignorância e do preconceito rasteiro". E denuncia a discriminação religiosa que chega a assumir traços de hipocrisia: “Há sacerdotes que com imponência, negam a ‘Comunhão’ a uma pobre Mãe de Santo que dedica a sua vida reunindo nos ‘terreiros’ os pobres mais pobres para que se sintam gente e filhos de Deus. Entretanto, estes mesmos padres não negam a ‘Comunhão’ e as restrições não são feitas aos políticos corruptos e aos governantes”.
O diálogo religioso e, mais do que isso, o espírito e a prática da ecumenicidade devem ser também um comportamento em relação às chamadas religiões afro". Para alguns Padres e Freis (amigos), não só olha-se para o terreiro para resgatar as raízes culturais negras, mas também para reconhecer a ação do mesmo Deus da Vida que protege e liberta seu povo. É um Deus conhecido, familiar, próximo: "O Àse é a Igreja do pobre mais pobre, ampliando o conceito de Igreja e tomando-o como o lugar onde os homens e as mulheres de boa vontade se reúnem a partir da fé. Não em qualquer fé, mas a fé no Deus da Vida. E o Deus do Candomblé é o Deus da Vida, é o Deus do Àse. Recebemos assim, mais do que uma descrição de ritos e mitos. Eles nos ajudam a percorrer o caminho certo de aproximação, dentro do respeito da alteridade cultural e religiosa, na necessária contextualização histórica e social de dominação e discriminação, à procura das manifestações do Deus da vida nas comunidades oprimidas, num espírito de acolhida e de fé.
Parto do principio, que o Universo seria pequeno para abrigar a dois ou mais Deuses, por tanto, somos “Todos” filhos de um único Deus Perfeito!
Àse
Mãe, motumbà!
ResponderExcluirO blog está excelente!!! É maravilhoso a oportunidade que nos dá de termos acesso a tudo isso de onde quer que estejamos. De manhã, um horário vago no trabalho, enfim... É sempre uma aula da cultura africanista! rs.
Beijos!