* Mãe Sheila é Iyàlorisà. Foi iniciada no Rio de Janeiro em 1976 por Josertina da Cruz Lessa (Mameto Oya Ice), filha de santo de MonaDewi, também conhecida como Vó Nanã, fundadora de uma conceituada casa de tradição Banto em Aracajú-SE da raiz Bate Folha. Na década de 80 passou a fazer parte da nação Ketu ao tomar suas obrigaçõs na raiz do Gantois. Em 1993, fundou sua "Casa de Santo", o Ilé Àse Àáfin Àbàmì Òsun, em Campos Elisios - Duque de Caxias, região metropolitana do Rio de Janeiro, onde funcionou por alguns anos, e hoje é situada na Vila Angélica, Chácara 87 da QD 47 - Jardim Recreio - Piabetá, é divulgadora e defensora da Cultura Afro e Afro-brasileira. Desenvolve um trabalho comunitário bem como de exclarecimento e entendimento aos seus filhos de santo, e procura informar ao máximo o povo em geral, através de programas de rádio e palestras, a respeito da cultura e da religiosidade afro que já foi tão reprimida no passado, e é discriminada ainda nos dias de hoje.

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

ÁFRICA -> MUNDO

A grande maioria veio da chamada África Ocidental e Centro-Ocidental, rasgada por imensos rios, a plataforma rígida formada por uma série de planaltos.
Esta tradição migratória era responsável pela lenta multiplicação de famílias ou de pequenos grupos que podiam se instalar ao lado de gente de origem completamente diferente.
À medida que os indivíduos se adaptavam a diferentes ambientes, a cultura se diferenciava, formando múltiplos grupos étnicos.
Apesar do enorme esforço de ocupação da terra, os habitantes da África Atlântica tinham que lutar com afinco contra um mundo hostil, instável e agressivo.
A maior parte das pessoas tem dificuldade em reconstituir as idéias e práticas religiosas, pois essas eram constantemente renovadas. Os africanos (não islamizados) não possuíam escrituras, tinham, em lugar disto, tradições orais. E julgavam a religião por sua vivência diária, sobretudo quando se tratava de aliviar sofrimentos e de assegurar paz, prosperidade e fecundidade.
Muitos observadores cristãos e muçulmanos se impressionaram com esse caráter diverso e fragmentado, reforçado pela ausência de textos escritos.
Certas palavras provam que idéias sobre um espírito criador, espíritos de ancestrais e da natureza, filtros e feitiços, rituais e feiticeiros. Cada grupo, contudo, chegava a idéias e práticas específicas.
Divindades da natureza confundiam-se, muitas vezes, com figuras humanas como é o caso de Èsù, Ogun ou Sangó, e muitos deles confundiam, também, os sexos.
Onde a organização das aldeias era forte, a religião apoiava-se em sociedades secretas cujo objetivo era tirar força dos espíritos para curar doenças, assegurar a fertilidade e combater feitiços. Os neófitos, ou seja, os que acabavam de ingressar na sociedade, falavam uma língua própria e cada classe portava ornamentos que as identificasse.
Os Yoruba e outros povos aparentados veneravam, por sua vez, várias divindades: os Orisà, divindades da natureza (água, ar, terra, fogo, raios, trovões, etc.) que, depois de sua adoração foram assimilados a ancestrais fundadores de dinastias.
Elas intercediam entre os homens e o Deus criador, Olorún.
Os Orisà, com o rosto quase sempre coberto pelas franjas de suas coroa de contas, tinha um lugar especial no panteão dos deuses.
Os Yoruba e outros povos aparentados serviam a um Orisà quer por herança, quer porque a divindade, por intermédio de um adivinho, os teria escolhido. Alguns Orisà eram reconhecidos em certas aldeias ou cidades, outros, em toda uma área cultural. Os seus adoradores podiam reunir-se e formar um grupo local provido de templos, sacerdotes, rituais coletivos e uma função no intenso e colorido ciclo de festas.
Mas, aos fins do século XVIII, a clerezia considerava que os Yoruba pagãos podiam ser reduzidos à escravidão. Tanto religiosos muçulmanos quanto cristãos consideravam as religiões africanas obras do diabo.
*Conta-se que um soberano de Jené fez construir uma mesquita dividida em duas partes: uma para muçulmanos, outra para pagãos.
Portanto, na sua terrível luta contra a natureza, os africanos se preocupavam, sobretudo, com a prosperidade e a harmonia no seio do mundo terrestre. Este ideal era encarnado pela figura do "grande homem", rico em armazéns de grãos, em gado, em ouro e, sobretudo, em escravos prontos para assegurar trabalho, segurança e poder.

Sei que em tudo que falo do Povo Africano, demonstro uma tristeza por injustiças cometidas no passado, injustiças que infelizmente, até os dias de hoje se fazem presente.
Importante destacar que o África é O Berço do Mundo! Não sou apenas eu quem digo, e sim a “História do Mundo” e a forma como tudo começou... A/C e a alguns mil anos atrás.

Beijos de mãe...

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Àjàlà “o moldador de Orí (cabeças)”

Diz um dos mitos que Àjàlà foi incumbido de moldar as cabeças dos homens com a lama do fundo dos rios e outros elementos da natureza. Ele moldava as cabeças e as punha para secar ao sol. Àjàlà tinha, contudo, o hábito de embriagar-se enquanto cozia o barro, e criou muitas cabeças defeituosas, queimando algumas e deixando outras com o barro cru. A causa dos problemas que muitas pessoas apresentam antes de serem iniciadas viria exatamente de um Orí cru, ou queimado, ou mal proporcionado feito durante alguma bebedeira de Ajalá. Como os Orisà não gostam de cabeças ruins, a pessoa ficaria desprotegida, sem a energia do Orisà. Depois que Àjàlà terminava de fazer os Orí (cabeças) Obatalá soprava nelas e lhes dava a vida.


Àjàlà é o joão-de-barro primordial. À parte de Osalà responsável pela criação física dos homens, por seu corpo, sua cabeça (onde vive Orí). Ele representa o aspecto mais orgânico do ser humano; o tipo de barro, de maior ou menor qualidade, mais ou menos cozido (o que implica maior ou menor número de problemas), mais claro ou escuro. Àjàlà mistura ao barro folhas, frutas, minérios, sangues e uma série de materiais que determinam como será aquela pessoa, como Orí poderá agir nela. Estes ingredientes, com o tempo perdem o Àse (energia) e precisam ser, de vez em quando, repostos, o que é feito nos rituais de candomblé, entre eles a iniciação.
O material usado para modelar cada cabeça dá, á pessoa que a escolher, seu destino e seus ewó (proibições). Orí, portanto, e a parte pessoal da existência de cada um. Ao escolher uma cabeça, a pessoa esta também escolhendo o seu odu. O odu é que rege a vida da pessoa durante sua permanência no àiyé. Só Àjàlà e Orunmilà conhecem o odu de cada um. Por isso, o odu só pode ser desvendado através do jogo.
O local de onde Àjàlà tira a massa para modelar Orí é chamado “iporí” e aí se encontra a herança de cada um, especialmente do pai da mãe. Assim, tendo Orí em si um componente de ancestralidade, as pessoas devem, antes de tudo, venerar seus antepassados.
Borí significa “festejo a cabeça, assim como outras obrigações são festejos aos Orisà ou aos ancestrais. Mesmo uma pessoa não iniciada pode dar um borí, desde que o jogo assim o recomende. Assim como qualquer outra obrigação, o borí deve ser precedido por um jogo, que indicará não só sua conveniência, como também tudo que deverá conter a obrigação, inclusive a descriminação dos alimentos a serem oferecidos”.
Outro aspecto importante é que o Orisà não pode atuar de forma positiva sobre a cabeça de um filho se essa pessoa estiver com a cabeça “fraca”. Como o agricultor prepara a terra onde a semente deverá germinar, também a Iyàlorisà ou Babalorisà prepara Orí para receber o Àse que será dados a seus filhos.

Orí é a denominação dada à cabeça física. Entre os povos da Nigéria, a cabeça é considerada o receptáculo das idéias, opiniões, emoções e sofrimento do individuo, e está ligada ao destino e à sorte.  é todo o Asè que uma pessoa tem, e sua sede é na cabeça. É ela que, geralmente, vem primeiro ao mundo e abre o caminho para trazer o resto do corpo. Ela é a sede da consciência e dos principais sentidos físicos.
Todo Orí possui uma individualidade, está relacionada com a qualidade que possui. Uma pessoa prospera é chamada de Olori Rere '' O que possui cabeça boa '', enquanto aquele que é desafortunado é descrito como Olori Buruku '' O que possui cabeça ruim ''. Isto está relacionado com o destino das pessoas. Nem um Orí é essencialmente mau, mas o destino é o fator que pode afeta-lo. Orí Inú é o ser interior ou ser espiritual do homem e é imortal.  Orí Òde é a cabeça física propriamente dita ou a matéria. Ela é mortal e oposição a Orí Inú, que foi criado por Àjàlà, um antigo Orisà.
Orí Òde é a denominação da cabeça física e Orí Inú é a cabeça interior. A primeira é confiada a Osanyin e a Ogun, ou seja, ao saber médico. A segunda é ligada a Ifá e aos Orisà, ou seja, ao saber divino.
Uma das mais importantes divindades na compreensão das crenças yoruba é o guia de cada um e de todos para o sucesso neste mundo e também no outro (céu-orun). Orí é o mesmo que um Orisà e se comporta como tal, inclusive fala na pratica divinatória. Em nosso Orí vive nosso Orisà, que é '' Lavado, assentado e feito''.

Beijos de mãe e muito Àse.

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

ÌYÀWÓ

Ìyàwó, palavra de origem yoruba, e é a denominação dos filhos-de-santo já iniciados no Àse, que ainda não completaram o período de sete anos da iniciação, porem só após a obrigação de sete anos ele se tornará um Egbomi (irmão mais velho). Antes da iniciação são chamados de Abíyàn (Abíyàn = Novato. É considerada abíyàn toda pessoa que entra para a religião após ter passado pelo bori. Poderá ser iniciada ou não, vai depender do Orisà pedir a iniciação).
A pessoa passa a ser um Ìyàwó após um determinado período, com os preceitos, os ebò dentre outros, e é recolhida no ronco, quarto específico e apropriado para se fazer iniciações e obrigações, e passa por todos os preceitos necessários para ser um iniciado, as fundamentações e os oró, onde renascerá, não como um homem comum, mas como instrumento de seu Orisà, que por sua boca e seu corpo falará e se manifestará, criando um elo pleno e aumentando assim seu conhecimento, afinidade e Àse próprio de seu Orisà.
Pelas tradições, é durante os sete anos, que se completa o ciclo da iniciação e que a pessoa vai aprender as rezas, as cantigas, os preceitos, os segredos só confiados aos iniciados do Candomblé.
A iniciação pode ser de apenas um Ìyàwó ou pode ser de vários. Nesse caso recebe o nome de "Barco de Ìyàwó”. No caso do barco, o primeiro Ìyàwó será chamado de Dofono, o segundo dofonitinho, o terceiro será chamado de Fomo, o quarto de Fomutinho, o quinto de Gamo, o sexto de Gamutinho, o sétimo de Vimo, o oitavo de Vimutinho, e daí por diante.
Existem Orisà que não podem ser iniciados junto com outros; e nesse caso, será recolhido sozinho.
Para saber se uma pessoa precisa ser iniciada ou não, no Candomblé, o Babalorisà ou Iyàlorisà consulta o jogo de búzios, onde terá as respostas. Essa é uma das formas de saber.
Para os cargos ou postos de Ogan e Ekedij, as pessoas são escolhidas por algum Orisà da casa, e serão pessoas de inteira confiança, pois ficarão com a responsabilidade de zelar pela casa, das festas, dentre outros compromissos e obrigações, lado a lado com a Iyàlorisà ou Babalorisà.
Um iniciado sempre será iniciado, pois uma iniciação nunca será desfeita.
Nos tempos atuais, ouvimos contar que muitos omo Orisà (Filhos de Orisà) que abandonam as casas de origem, e outros migram para outros seguimentos religiosos, na realidade, esse tipo de fato não condiz com o correto dentro das tradições africanas.
Muitos Ìyàwó sentem-se incomodados ao serem chamados de Ìyàwó, e na realidade todos deveriam se orgulhar de “Serem Ìyàwó”, pois todo e qualquer Sacerdote (Babalorisà/Iyàlorisà) só se tornaram Sacerdotes por terem sido iniciados Ìyàwó

A Origem da Palavra ÌYÀWÓ”

Conta a Lenda...

Um certo dia, Òrúnmìlà desejou se personificar em um ser humano. Vestiu-se com folhas de bananeira como se fosse um maltrapilho e se dirigiu à cidade de Ìwó. Ali viu o Oba em toda sua imponência, com seus assistentes e chefes, pois era época de festa anual. Sentou-se em frente a casa do Oba e se serviu das sobras de comida que jogavam fora. Ao ver isso, o Oba o entendeu como um estranho e ordenou que servissem um prato de comida para ele. Mais tarde, Òrúnmìlà disse ao Oba que queria dormir um pouco. A fim de se livrar do estranho maltrapilho, o Oba ordenou a seus servidores que preparassem um lugar para ele, com toda a roupa de cama salpicada com fiapos e sementes de uma certa planta que provocava comichão. Òrúnmìlà dormiu sobre isto e, quando acordou sentiu uma coceira pelo corpo, correu para o rio para se banhar. De manhã cedo, foi até o Oba e disse a ele que tinha tido um bom sono. Em seguida, jogou Òpèlè, o rosário divinatório para Oba, e fez previsão para ele, dizendo que teria um reinado longo e próspero. Novamente, Òrúnmìlà continuou com seu comportamento estranho, comendo sobras de comida, mas predizendo para as pessoas. No seu terceiro dia em Ìwó, a filha do Oba começou a gostar de Òrúnmìlà, e decidiu se casar com ele. Todos ficaram horrorizados, uma princesa se casar com o estranho maltrapilho. Mas ela insistiu e o Oba teve de concordar, dividindo seus bens com Òrúnmìlà, em forma de dote. Òrúnmìlà, então, foi viver fora da cidade com a princesa. Ficou dono de muitos bens, passou a ter assistentes e muitos cavalos, devido aos presentes que recebeu do Oba.
Assim, quando as pessoas perguntavam quem era sua esposa, Òrúnmìlà respondia que era uma humilhação que sofreu em Ìwó. Ìyà significa humilhação, e Ìwó, o nome da cidade onde sofreu humilhação. As duas palavras formam Ìyà Ìwó, e que veio a se tornar Ìyàwó. Desse momento em diante, os yorubá se referiam a noiva de Òrúnmìlà como Ìyàwó, que, assim passou a ser a palavra que define uma ESPOSA.”

**E que no Brasil, erradamente, significa o (a) iniciando (a).

Beijos de mãe...

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Sacerdócio

Sacerdote (do latim Sacerdos, otis) é um ministro religioso, habilitado para dirigir ou participar em cerimônias de culto, sendo compreendido como uma ligação entre as divindades e os homens.

Sacerdócio é a condição de pessoas que executam as cerimônias de determinada religião dentro de um templo. É designado de Sacerdote (ou Sacerdotisa) quem participa do sacerdócio, e este é responsável por proceder aos cultos, os ritos, ministrar leis, regras e tradições e demais serviços ligados à crença do templo ao qual está vinculado.
A hierarquia existe em todos os sacerdócios e cada religião tem seus líderes, com deveres, vestuário, ritos e forma de transmissão na sua função sacerdotal.
As religiões conservam a figura do sacerdote com certas diferenças. São funções sacerdotais, para efeito de comparação, porém com diferenças significativas entre as religiões. Em última toda religião possui um mediador entre Deus e a comunidade e os Babalorisà, Iyàlorisa e Babalawo são os Sacerdotes no Candomblé.

Para se atingir o Sacerdócio dentro do Àse, temos um longo e árduo caminho a percorrer.
Tendo como base à iniciação, que é o inicio de tudo dentro da religião, e ainda sendo essa iniciação feita dentro de um Àse “legitimo” de matrizes africanas. Apos o cumprimento dos anos e de todas as obrigações necessárias, pertinentes e obrigatórias, e tendo sido escolhido pelo Orisà, o Filho do Orisà terá a condição e o direito de exercer o Sacerdócio.
O perfil que se espera em um Sacerdote é princípio da intuição, autoconfiança e da iniciativa, ser auto conhecedor e não dependente. Ter pureza e viver principalmente para o Maior; e o Maior é Tudo; Ouvir e “escutar” as mensagens de quem o guia e sintonizar com a fé; atingir o conhecimento do oculto e reter na memória. Ter saúde mental e emocional é muito importante, pois é “equilíbrio”. Ser humilde e respeitar o próximo são fatores primordiais. Ter espírito de liderança porem sempre com humildade. Ter discernimento... Mas tudo isso não tem valor se não tiver o verdadeiro amor pelos Orisà.

O Sacerdócio, para nós, não é uma escolha pessoal e sim uma condição, pois somos escolhidos.
Ser Sacerdote não é ser “ditador”, é ser tolerante, orientador, paciente, conselheiro, compreensivo porem com o discernimento e postura. Não é ser um juiz, pois quem nos julga e tudo determina é o Orisà.
Passar para seus seguidores o aprendizado ao longo dos anos e prepara-los para a vida religiosa e a vida em geral.
Ter orgulho de sua raiz (descendência de Àse) e respeito incondicional por sua ancestralidade.
Na verdade, todo bom sacerdote, a rigor foi um bom Iyawo, pois somente apos a iniciação é que começa o aprendizado de fato.
Para muitos e posso bem dizer para todos, o Àse é uma eterna escola, os mais novos aprendendo com os mais velhos e os mais velhos aprendendo com os mais antigos ainda.

*Sacerdócio = Fé, Humildade, Amor INCODICIONAL, Dedicação, Tolerância, Postura, Coragem e Conhecimento!

Àse

sábado, 18 de setembro de 2010

Orisà: África / Brasil “Candomblé Religião de fato”

O Orisà é uma força pura, Asè imaterial que se torna perceptível aos seres humanos, incorporando-se em um deles, possibilitando ao Orisà, voltar a terra para saudar e receber provas de respeito dos que o evocam. Nas cerimônias de adoração ao ancestral divinizado, que ao incorporar-se ao iyawo, reencontra, por alguns instantes, sua antiga personalidade espiritual, com suas qualidades e seus defeitos, seus gostos, suas tendências, seu caráter agradável ou agressivo, voltando assim, momentaneamente a terra, entre seus descendentes, durante cerimônia de evocação.
Os Orisà dançam diante deles e com eles, recebendo seus comprimentos “ouvem suas queixas, concedem graças, resolvem suas desavenças e consolam seus filhos. O mundo celeste não está distante, nem superior, e os crentes podem conversar diretamente com as divindades e aproveitar da sua benevolência”.
Na África cada Orisà estava ligado, originalmente, a uma cidade ou a um país inteiro. Tratava-se de uma série de cultos regionais ou nacionais, Sangò em Oyò, Iemònjá em Egbò, Ýewá em Egbado, Ogun em Iré, Ekiti e Ondò, Osun em Osogbo, Ilesa e Ijebú, Erinlè em Olobù, Logunede em Ijesa, Otin em Inisa, Osaala-Obatala em Ifè, subdividido em Osolufan em Ifam e Osogiyan e Ijigbó, dentre outras. E em cada uma dessas regiões, se cultua um único Orisà, ou seja, cultua-se o Orisà Patrono da cidade/aldeia/região, onde todos são adoradores/descendentes de uma mesma divindade, de um mesmo Orisà.
A qualidade das relações entre um indivíduo e seu Orisà, é diferentes, caso ele se encontre na África ou no Brasil. Na África, a realização das cerimônias de adoração ao Orisà é assegurada pelos sacerdotes designados para tal, ou seja, sacerdote de uma região e de um único Orisà.
No Brasil, ao contrário, cada um tem que assegurar pessoalmente as minuciosas exigências do Orisà, tendo, porém a necessidade de encontrar em uma casa de Asè, um meio onde se inserir a um (a) Sacerdote (a) capaz de guiá-lo e ajudá-lo a cumprir corretamente as suas obrigações em relação a seu Orisà.
Existe, porém uma lenda sobre Ilé Ifè, onde diz que a terra se espalha criando uma grande sociedade entre povos africanos... No Brasil, temos essa importante representação dentro das casas de Àse. A “cumieira”, onde representa o orun (céu) e o “ariasè”, representando o ayé (terra). A partir daí, se cria uma grande sociedade, o egbè. E a terra gira representada pelos Orisà... Dançando, festejando, abençoando e transmitindo toda a força do Àse em torno desse egbè.
"A religião foi, certamente, uma das práticas mais combatidas nos povos trazidos da África. Do púlpito à corte, as práticas religiosas de origem africana foram estigmatizadas e satanizadas, sofrendo, inclusive, a repressão policial. Graças unicamente à proteção divina e à resistência negra, permanecem, hoje, mais florescentes que ontem". "Mesmo com o clima mais favorável para o ecumenismo e o diálogo religioso que se criou após o Concílio Vaticano II - continua - ainda são fortes os preconceitos e a distância de católicos e protestantes em relação à religiosidade de origem africana". Por isso, o primeiro desafio é "a eliminação, por parte dos agentes de pastoral hierarquizados ou não, da ignorância e do preconceito rasteiro". E denuncia a discriminação religiosa que chega a assumir traços de hipocrisia: “Há sacerdotes que com imponência, negam a ‘Comunhão’ a uma pobre Mãe de Santo que dedica a sua vida reunindo nos ‘terreiros’ os pobres mais pobres para que se sintam gente e filhos de Deus. Entretanto, estes mesmos padres não negam a ‘Comunhão’ e as restrições não são feitas aos políticos corruptos e aos governantes”.
O diálogo religioso e, mais do que isso, o espírito e a prática da ecumenicidade devem ser também um comportamento em relação às chamadas religiões afro". Para alguns Padres e Freis (amigos), não só olha-se para o terreiro para resgatar as raízes culturais negras, mas também para reconhecer a ação do mesmo Deus da Vida que protege e liberta seu povo. É um Deus conhecido, familiar, próximo: "O Àse é a Igreja do pobre mais pobre, ampliando o conceito de Igreja e tomando-o como o lugar onde os homens e as mulheres de boa vontade se reúnem a partir da fé. Não em qualquer fé, mas a fé no Deus da Vida. E o Deus do Candomblé é o Deus da Vida, é o Deus do Àse. Recebemos assim, mais do que uma descrição de ritos e mitos. Eles nos ajudam a percorrer o caminho certo de aproximação, dentro do respeito da alteridade cultural e religiosa, na necessária contextualização histórica e social de dominação e discriminação, à procura das manifestações do Deus da vida nas comunidades oprimidas, num espírito de acolhida e de fé.
Parto do principio, que o Universo seria pequeno para abrigar a dois ou mais Deuses, por tanto, somos “Todos” filhos de um único Deus Perfeito!

Àse

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

ONILÈ – Divindade da Terra

 

Onilè é uma divindade relacionada aos aspectos essenciais da natureza, e originalmente exercia seu patronato sobre tudo que se relaciona à apropriação da natureza pelo homem, o que inclui a agricultura, a caça e a pesca e a própria fertilidade. Com as transformações da sociedade yoruba numa sociedade patriarcal ou patrilinear, que implicou a constituição de linhagens e clãs familiares fundados e chefiados por antepassados masculinos, as mulheres perderam o antigo poder que tiveram numa primeira etapa (um mito relata que, numa disputa entre Oyà e Ogum, os homens teriam arrebatado o poder que era antes de domínio das mulheres).

 



Os antepassados divinizados tomaram o lugar das divindades primordiais e houve uma re- divisão de trabalho entre os Orisà. As divindades femininas antigas tiveram então seu culto reorganizado em torno de “entidades” femininas genéricas, as Iyà-Mi-Osorongà, consideradas “bruxas maléficas” pelo fato de representarem sempre um perigo para o poderio masculino, e vários Orisà tiveram dividido entre si as atribuições de zelar pela Terra, agora dividida em diferentes governos: o subsolo ficou para Omolu, Obaluayé e para Ogun, o solo para Orisà Oko e Ogun, a vegetação e a caça para os Odè e Osanyin e assim por diante. A fertilidade das mulheres foi o atributo que restou às divindades femininas, já que é a mulher que pari, que reproduz e dá continuidade à vida. Constituiriam se elas, então, em Orisà dos rios, representando a própria água, que fertiliza a terra e permite a vida: são as Iyabà Yemanjà, Osun, Oba, Oyà, Ewa e outras, também Nanã, que como antiga divindade da terra, representa a lama do fundo do rio, simbolizando a fertilização da terra pela água.
Onilè teve seu culto preservado na África, mas perdendo muitas das antigas atribuições. Hoje ela representa nossa ligação elemental com o planeta em que vivemos, nossa origem primal. É a base de sustenção da vida, é o nosso mundo material. Embora sua importância seja crucial do ponto de vista da concepção religiosa de universo, os devotos a ela pouco recorrem, pois seu culto não trata de aspectos particulares do mundo e da vida cotidiana, preferindo cada um dirigir-se aos Orisà que cuidam desses aspectos específicos. No Brasil, como aconteceu com outros Orisà, seu culto quase que desapareceu. Certamente um fator que contribuiu para o esquecimento de Onilè no Brasil é o fato de que este Orisà não se manifesta através do transe ritual, não incorpora, não dança. Outros Orisà importantes na África e que também não se manifestam no corpo de iniciados foram igualmente menos considerado neste País que, por influência do kardecismo, atribui um valor muito especial ao transe. Foi o que aconteceu com Orunmilà, Odudua, Orisà Oko, Ajalá, além da Iyà-Mi-Osorongà. É interessante lembrar que o culto de Osanyin sofreu no Brasil grande mudança, passando o Orisà das folhas a se manifestar no transe, o que o livrou certamente do esquecimento. O culto da árvore Iroko também se preservou entre nós, ainda que raramente, quando ganhou filhos e se manifestou em transe, sorte que não teve Apaokà

Na Nigéria mantém-se viva a ideia de que Onilè é a base de toda a vida, tanto que, quando se faz um juramento, jura-se por Onilè. Nessas ocasiões, é ainda costume pôr na boca alguns grãos de terra, às vezes dissolvida na água que se bebe para selar a jura, para lembrar que tudo começa com Onilè, a Terra Mãe, tanto na vida como na morte.

Um mito que terei prazer de contar em outras ocasiões, a qual é a atribuição principal de Onilè, como ela está associada ao chão que pisamos e sobre o qual vivemos nós e todos os seres vivos que formam o nosso habitat no nosso mundo material.



Creio que parte dos seguidores do candomblé nunca ouviu falar ou teve apenas vagas referências sobre Onilè, mas em certos candomblés de nação queto, que preservam ou reconstituem tradições que em grande parte se perderam na diáspora yorubana, pratica-se um culto discreto mas significativo à Terra Mãe, para a qual se canta, ou no início do xirê ou no final da chamada roda de Xangô, a cantiga que diz "Mojubà, Orisà / ibà, Orisà/ ibà Onilè", que pode ser traduzido como "Eu saúdo o Orisà/ Saúdo Onilè/ Salve a Senhora da Terra". 
**Onilè, isto é, a Terra, tem muitos inimigos que a exploram e podem destruí-la. Para muitos seguidores da religião dos Orisà, interessados em recuperar a relação Orisà-natureza, o culto de Onilè representaria, assim, a preocupação com a preservação da própria humanidade e de tudo que há em seu mundo. Pois é Onilè quem guarda o planeta e tudo que há sobre ele, protegendo o mundo em que vivemos e possibilitando a própria vida de tudo que vive sobre a Terra, as plantas, os bichos e a humanidade.

Àse

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Esù, O Guardião de tudo e de todos.

Esù é planejamento, intuição e estratégia.
Ele possui uma visão global de ação e dinâmica.
Osaalà, Ifá, Ogum são criadores, Esù fez a civilidade.
Elegbara é senhor do poder, mas este poder não é de autoridade e sim poder de executar, mudar, transformar, realinhar e solucionar.
Esù também é a morte, mas a morte cíclica.
Esù devolve a vida, ele recicla dentro da sua versatilidade.
Ele promove o equilíbrio entre a vida e o homem.



O jogo (ifá) é adivinhação e ele é estática, define uma situação.
Esù fala no jogo, pois ele á ação, portanto a solução para o fato adivinhado.

Esù é completamente ligado às oferendas; ele as leva a quem de direito.
Deve-se louvar e pedir a Ele ao se ofertar. Não há por que o sacerdote ter que arcar com o carrego se Esù fará isso.

Reserve para ele sempre uma parte do “dinheiro” cobrado do ebó, alias toda uma parte de qualquer coisa ou alimento deverá ser de dirigida a Esù.
A boca dos homens é a boca dos Deuses
Esù é o guardião de tudo e todos, ele é o protetor. È errado dizer que ele não possui morada; o perigo não esta dentro de casa e sim na entrada, portanto é lá que ele mora para melhor nos proteger.
Esù Odara – o Bondoso.
Osun rege o amor na energia atrativa, Esù é a continuidade desse sentimento.

Esù esta também intimamente ligado a terra (Onilé) , pois Yangi é a laterita na profundeza da terra. Também é ligado as Iyami, nossas primeiras mães, e ao culto a Egungun, pois ele é o guardião de toda entrada.
Todos os dias são dia de Esù, ele é o homem do tempo.
Ele é o homem da reprodução, como a reprodução não é um ato somente sexual simbolicamente suas reproduções poderão ter seios, embora não exista Esù feminino.
Ele é a divindade das virtudes, o portador do Àse.
Ele é Laroye, aquele que propaga o que aconteceu.
Ele é Aworo, o grande sacerdote.
Qualquer pessoa pode ser iniciada em Esù, embora seja uma missão muito séria e sublime ser Elegun de Esù!
Seus escolhidos são seres especiais.
Sua maior virtude deverá ser a lealdade. Pode-se ser desleal até com o “sacerdote”, jamais com Orisà.

Ejé Bale
Ki ara ro
Èsu sara soro

“ Que o ejé caia
Para que o corpo e o espírito se harmonizem”

E lembrando o principio da dissertação sobre a oralidade metafórica da nossa cultura eu digo:
Inu mi dun, ou seja: Inu=Boca – Mi=minha – Dun= doce.
Tradução literal – Minha boca esta doce - Metáfora de bem estar, satisfação, contentamento.
Significado = Eu estou feliz!

Esù Korede (trouxe toda sorte), Èsu Kayode (trouxe toda alegria), Esù Tumbi (me fez renascer), Èsu Gbami (que me acolhe e me socorre), Esù Yomi (que me livrou da morte e da desgraça).

Esù Femi - Èsu que me ama.
IRAWO AKODA”
A primeira estrela que brilha.

“OLULANO”
Aquele que abre caminhos e direções.

“ELEGBARA”
O homem do poder e da força.

Esù é o limite de tudo; disciplina, ordem e organização.
Esù é paciente; através da paciência ele promove esta disciplina , ordem e organização.
Ele é conselheiro e não opinador, pois Ele é sábio e experiente.
Por ele reger a vida, a penetração de Esù no homem é de 100%, ao contrário dos outros Orisà que regem suas aspirações espirituais.
Esù é o único que não “leva vantagem”, Ele trabalha em prol dos outros.
Existe uma lenda sobre Ele que bem exemplifica este lado altruístico:
“ “Olodumaré teve um filho completamente anormal, possuía todas as deficiências, surdo, mudo, corcunda, manco enfim todo deformado”.
Olodumaré tentou de tudo para curá-lo sem conseguir. Mandou-o então ao Aiye.
Orunmilà que vivia aqui no Aiye, embora fosse um bem sucedido solucionador de problemas era muito pobre e, recorreu a um Babalawo que o mandou fazer um ebó de 5 dias, com 5 galinhas, vísceras, dendê e sal num alguidar e depositar na encruzilhada ( caminhos de Esù ). E recitar “ Que a sorte venha a mim”
Ocorre que o filho de Olodumaré ao chegar a terra ficou estático em uma encruzilhada, exatamente na qual Orunmilà depositou seu ebó. Faminto ele comeu o 1º ebó. Para sua surpresa começou a ouvir e a falar. Durante os 5 dias comeu os ebós e ficou completamente curado de todas as anormalidades e então retornou ao ORUN.
Lá chegando e perfeito, Olodumaré muito se admirou e perguntou ao filho quem era o responsável pela sua cura. O filho respondeu que comeu durante 5 dias as oferendas colocadas numa encruzilhada de um Sr. Orunmilà.
Olodumaré então deu ao filho: dinheiro, fertilidade, longevidade e paciência como presentes para que ele levasse a Orunmilà como agradecimento, porem ele só poderia escolher uma das dádivas.
Èsú sempre foi o melhor companheiro de Orunmilà foi chamado para aconselhá-lo na escolha, uma vez que seus parentes cada um queria uma das dádivas: as suas mulheres queriam a fertilidade; os irmãos, o dinheiro, os filhos a longevidade e ninguém quiseram a paciência.
Èsú muito pensou e aconselhou ao amigo que escolhesse a paciência, pois para que ele queria fertilidade se ele não conseguia criar nem os filhos que já tinha; dinheiro se os irmãos os quisessem que fossem trabalhar; viver muitos anos naquela penúria era sofrimento demais, portanto o mais coerente era ele ter paciência para enfrentar a adversidade.
Orunmilà seguiu seu conselho e escolheu a paciência contrariando todos da família e o filho de Olodumaré retornou a sua casa. No caminho a fertilidade perguntou da paciência ele disse que ela tinha ficado e imediatamente ela voltou, pois sem a paciência ela não teria função uma vez que a gestação demandava de tempo. O dinheiro também voltou, pois sem a paciência ninguém poderia ganha-lo e por final a longevidade também se foi por que sem paciência não era possível uma vida longa.
O filho de Olodumaré chegou à casa muito infeliz e preocupado, pois não conseguiu trazer de volta as dádivas que foram confiadas a ele.
Então Olodumaré o acalmou e lhe garantiu que ele assim fizera seu plano, porém queria testar os valores de Orunmilà.
Esù aconselhou bem seu amigo sem nada ter em troca, sem nenhum interesse, no entanto pode compartilhar com ele de todas as dádivas recebidas.
Este estudo não tem caráter de ensino ritualístico do Orisà e sim um estudo filosófico sobre o mesmo, dentro de uma óptica africana.
Nada é mais importante do que Esù, saber entendê-lo é ter os problemas resolvidos.
Esù não é polêmico, ele é difícil, portanto há de se ter um raciocínio lógico para compreender seu principio ético, moral e filosófico.
Seriedade não tem sido o forte das pessoas de nossa religião.
Ser iniciado é ser nobre, pois o adosu é nossa coroa.
Se somos nobres nossas atitudes devem seguir a mesma nobreza.
Ser sacerdote é ter caráter e dignidade; ser um bom filho (a), bom pai/mãe, bom marido/esposa, bom vizinho (a), bom amigo (a), ou seja, ter uma postura coerente para um orientador (a) espiritual.
Assim é Esù – O Benevolente.
Esù não trás uma filosofia de morte e sim do aqui e agora.
Há de se entender que nossa cultura chegou aqui numa condição sub-humana, com conflitos de crenças, dificuldades de linguagem, torturas físicas e psicológicas, e diante dessa situação muitos conceitos e rituais foram dissimulados e a partir daí deturpados e confundidos.
Hoje somos livres, uma outra geração, temos nossos direitos adquiridos, temos acessos ao conhecimento e a interpretação a nossa cultura original.
Cabe a nós, portanto desmistificar alguns conceitos que marcaram por demais nossa religião e o maior sem duvida é sobre Esù.
Não existe comparação para este Orisà, nem espaço para erros.
Ele é a base, a essência de tudo.
Ele é o guardião de todos os Àse.
Ele é o alicerce de qualquer casa e se não bem alicerçada a casa vai ruir.
Sem ele nada existe. Onde houver vida e movimento lá estará Esù.
Na áfrica, cada nação ou região cultua um determinado Orisà, somente Esù é cultuado em todas as regiões e cultos, daí se concluir que somente ele é o guardião dos Àse.
Os grandes equívocos de interpretação se deram ao se traduzir a literatura escrita Yoruba, pois na verdade não é uma cultura literária e sim oral.
A oralidade é e era nosso meio de comunicação e propagação dos rituais.
Ocorre que nossa oralidade é fundamentada em metáforas daí as discrepâncias de tradução, modificando todo um conteúdo de uma mitologia, itan ou oriki.
No caso de Esù ele é dito como o mensageiro dos Orisà, embora não seja bem esta sua função, como já vimos ele é o Guardião.
Só ele tem acesso direto com o Supremo, portanto ele mais trás as determinações Dele aos Orisà e leva seus pedidos ao Divino.
Tratam-no como escravo dos Orisà, um simples Office-boy.
Acreditam num sincretismo absurdo que para que ele faça algo que querem que ocorra, jogam-lhe azeites quentes, acorrentam-no, entre outras aberrações.
Ai está à ligação antepassada da condição sub-humana dos nossos ancestrais que assim também eram tratados, meramente escravos.
Talvez por Esù ser o que mais se aproxima do material, portanto do humano, esta condição de escravo, ranço do ocidentalismo, faz com que nosso comportamento com a maior energia do universo seja completamente errado.
Se em nossa religião um sacerdote (Pai/Mãe de Santo) se sente maior que o Orisà, imaginem de Esù, que inúmeros consideram “escravo”
**Num completo paradoxo, nenhuma casa ou sacerdote começa nenhuma função antes de render homenagem a Esù.

**Que Esù nos guarde, defenda e nos ilumine... Esù o Senhor dos nossos caminhos!

Beijos de mãe...

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

O Matriarcado


A tradição do Matriarcado



Desde a instalação dos primeiros terreiros de candomblé, criou-se uma tradição matriarcal dentro do culto.
No inicio do século XIX foi estabelecida a mais antiga casa de candomblé do Brasil fundada por três princesas africanas escravizadas e libertadas, Iyá Nassô, Iyá Kalá e Iyá Detá que fundaram o Ilê Iyá Nassô Oká, conhecido como Casa Branca do Engenho Velho.
Com a difusão do candomblé na cidade de Salvador, Bahia, outras casas de candomblé se estabeleceram, sempre sob a direção das mães de santo, como o Ilê Mariolajê (Alaketu), Associação Igbé São Jorge do Gantóis e o Ilê Axé Apô Afonjá.
Segundo os historiadores existem dois motivos principais que explicam a causa do matriarcado nos cultos de matrizes africanas, uma dessas teses é sustenta que a mulher poderia dedicar-se mais a religião. Nas sociedades africanas, berço do candomblé, o poder político e religioso era do homem. No Brasil houve uma troca de poder entre os sexos. A mulher escrava foi alforriada antes do homem e com essa liberdade teria mais tempo de cuidar dos assuntos espirituais. “É mais fácil sustentar uma mulher na casa de culto do que retirar um homem do trabalho produtivo, durante meses, para este fim”.


Atualmente alguns Àse ainda mantêm a tradição matriarcal. As casas mais famosos do pais estão nas mãos de mulheres e devem continuar assim por muito tempo. Alguns como Apô Afonjá, fundado em 1910, em Salvador, têm em seu estatuto uma clausula proibindo qualquer homem de sentar-se ao trono. Nestes templos, o poder da Mãe-de-santo é absoluto, ela é a primeira a entrar no egbè. Fica sentada, um privilégio alto clero do candomblé e todos os filhos e agregados se abaixam. Só ela pode jogar búzios, aconselhar fieis e intermediar a relação entre os deuses e seus filhos.
O matriarcado foi perdendo sua força com a fomentação do candomblé e sua disseminação pelo país, sobretudo pela criação de um novo culto chamado “Candomblé de Caboclo”. Segundo Landes, “os homens somente começam a surgir como pais-de-santo na Bahia ”depois de uma geração“.

domingo, 12 de setembro de 2010

O Candomblé - Culto aos Orisà.



Candomblé, culto dos Orisà, de origem totêmica e familiar, é uma das religiões afro-brasileiras praticadas principalmente no Brasil, pelo chamado povo do santo, mas também conhecida e praticada em outros países.

A Religião (anteriormente chamada de seita) foi trazida e desenvolvida no Brasil com o conhecimento dos sacerdotes africanos que foram escravizados e trazidos da África para o Brasil, juntamente com seus Orisà Nkisi e Vodun, sua cultura, e seu idioma, entre 1549 e 1888.

Embora confinado originalmente à população de negros escravizados, proibido pela igreja católica, e criminalizado mesmo por alguns governos, o candomblé prosperou nos quatro séculos, e expandiu consideravelmente desde o fim da escravatura em 1888. Estabeleceu-se com seguidores de várias classes sociais e dezenas de milhares de templos. Em levantamentos, aproximadamente 3 milhões de brasileiros (1,5% da população total) declararam o candomblé como sua religião

Os negros escravizados no Brasil pertenciam a diversos grupos étnicos, incluindo os yoruba, os ewe, os fon e os bantu. Como a religião se tornou semi-independente em regiões diferentes do país, entre grupos étnicos diferentes, evoluíram diversas "divisões" ou nações, que se distinguem entre si principalmente pelo conjunto de divindades veneradas, o atabaque/toques (música) e a língua sagrada usada nos rituais.

Candomblé é uma religião monoteísta, embora alguns defendam que cultuam vários deuses, o Deus único para a Nação Ketù é Olorun, para a Nação Bantù é Zambi e para a Nação Jeje é Mawu, são nações independentes na prática diária e em virtude do sincretismo existente no Brasil a maioria dos participantes consideram como sendo o mesmo Deus da Igreja Católica. O Candomblé cultua, entre todas as nações, umas cinquenta das centenas delas ainda cultuadas na África. Mas, na maioria das casas nas grandes cidades, são dezesseis as mais cultuadas. O que acontece é que algumas divindades têm "qualidades", que podem ser cultuadas como um diferente Orisà/Nkinsi/Vodun em um ou outro Àse. Então, as demarcações das divindades das diferentes nações é grande, e muitos Orisà de Ketù podem ser "identificados" com os Vodun do Jejé e Nkinsi dos Bantu em suas características, mas na realidade não são os mesmos; seus cultos, rituais e toques são totalmente diferentes.

Os Orisà têm individuais personalidades, habilidades e preferências rituais, e são conectados ao fenômeno natural específico. Toda pessoa é escolhida no nascimento por um Orisà, que um babalorisà identificará.

Alguns Orisà são "incorporados" por pessoas iniciadas durante o ritual do candomblé, outros Orisà não, apenas são cultuados pela coletividade. Alguns Orisà chamados Funfun (branco), que fizeram parte da criação do mundo, tendo também os que não são incorporados.

No tempo das senzalas os negros para poderem cultuar seus Orisà, Inkice e Vodun usaram como camuflagem um altar com imagens de santos católicos e por baixo os assentamentos escondidos, segundo alguns pesquisadores este sincretismo já havia começado na África, induzida pelos próprios missionários para facilitar a conversão.

Depois da libertação dos escravos começaram a surgir as primeiras casas de candomblé, e é fato que o candomblé de séculos tenha incorporado muitos elementos do Cristianismo e imagens eram exibidos nos templos, e os Orisà eram frequentemente identificados com os Santos Católicos.

A lei federal nº. 6.292 de 15/12/1975 protege as casas de candomblé no Brasil, contra qualquer tipo de alteração de sua formação material ou imaterial.

A progressão na hierarquia é condicionada ao aprendizado e ao desempenho dos rituais longos da iniciação.

Em caso de morte de uma Iyalorisà, a sucessora é escolhida, geralmente entre suas filhas (os), na maioria das vezes por meio de um jogo divinatório Opele-Ifà ou Jogo de Buzios. Entretanto a sucessão pode ser disputada ou pode não encontrar um sucessor, e conduz frequentemente ao fechamento da casa. Há somente quatro ou cinco casas no Brasil que viram seu 100° aniversário.

**Não podemos julgar nem tão pouco criticar, a ritualistica praticada em casas dessas diversas nações (regiões) africanas. Muitas veses vemos ou ouvimos contar a forma de cultuar determinado Orisà e por ignorar tal região africana, ou ignorando o fato de que os africanos trouxeram a religião para o Brasil de aldeias diversas e que, inclusive, não se relacionavam religiosamente e culturalmente, e que alguns dos Orisà eram desconhecidos em outras regiões da África.

É importante ressaltar que as regras e tradições deverão sempre serem mantidas, pois muitos sofreram e até morreram para perpetuar o Culto aos Orisà no Brasil.

Beijos de mãe e muito Àse a todos (as).

sábado, 11 de setembro de 2010

Se você é do tempo que ainda acredita que São Jorge é Ògún, que roça, barrcão e Candomblé são a mesma coisa, que Òrìsà tem enredo, pare para pensar...





Se você já sabe que quer mudar por estar insatisfeito com a conjuntura atual ou se é, como eu que (já) sabe Ògún é anterior a São Jorge, que roça é um espaço agrário, que barracão e enredo, fazem parte da Cultura das Escolas de Samba e que "fundamento" é tudo aquilo que é vivido e passado de seu Òrìsà para você, e tem espírito e revolucionário de luta por melhores dias para a Cultura Afro-Brasileira, e é contra a ignorância e o pseudo saber de alguns ditos "antigos", convoco-o a fazer parte de meu círculos de amigos, a fim, de juntos, chegarmos ao topo do conhecimento e da sabedoria do nosso Candomblé.