* Mãe Sheila é Iyàlorisà. Foi iniciada no Rio de Janeiro em 1976 por Josertina da Cruz Lessa (Mameto Oya Ice), filha de santo de MonaDewi, também conhecida como Vó Nanã, fundadora de uma conceituada casa de tradição Banto em Aracajú-SE da raiz Bate Folha. Na década de 80 passou a fazer parte da nação Ketu ao tomar suas obrigaçõs na raiz do Gantois. Em 1993, fundou sua "Casa de Santo", o Ilé Àse Àáfin Àbàmì Òsun, em Campos Elisios - Duque de Caxias, região metropolitana do Rio de Janeiro, onde funcionou por alguns anos, e hoje é situada na Vila Angélica, Chácara 87 da QD 47 - Jardim Recreio - Piabetá, é divulgadora e defensora da Cultura Afro e Afro-brasileira. Desenvolve um trabalho comunitário bem como de exclarecimento e entendimento aos seus filhos de santo, e procura informar ao máximo o povo em geral, através de programas de rádio e palestras, a respeito da cultura e da religiosidade afro que já foi tão reprimida no passado, e é discriminada ainda nos dias de hoje.

quarta-feira, 31 de agosto de 2011

DIFERENÇA ENTRE CANDOMBLÉ E UMBANDA

Esclarecer de uma forma definitiva a diferença entre Candomblé e Umbanda, é um dos meus grandes objetivos, pois a frase mais comum que ouvimos como candomblecistas, após uma explanação mesmo que resumida é que: eu achava que tudo era a mesma "coisa". O que primeiro respondo quando me perguntam sobre a diferença entre Candomblé e Umbanda, é que: não há semelhança, esta eu considero a melhor resposta, pois é o fato, não há a menor semelhança. A começar pelas origens, o Candomblé é uma religião africana que existe desde os tempos mais remotos daquele continente, que é o berço da terra, de forma que se funde sua origem com os primeiros contatos de pessoas que lá chegaram, existem na teologia africana que Odudúwa, foi designado por Olodumarè para levar a remissão e a palavra de Olurún (Deus) aos filhos que, viviam. na África. Este fato data de 1850 a.C., sendo que vivido entre 2100 a 2300 A.C. – Oranian, neto de Odudúwa , viveu em 1500 e seu filho Sangó por volta de 1400. As coincidências existentes nos rituais africanos, com a Kaballah hebraica, são imensas, e vem provar a tese da estreita ligação entre Abraão, pai dos semitas, e Odudúwa, pai dos africanos. Isso pode ser constatado no relacionamento existente entre o símbolo de um elementar africano chamado Dan a serpente, e uma das 12 tribos de Israel, cujo nome é Dan, e seu símbolo, a serpente telúrica. Citação que ainda faremos na Teologia Yorubana que fala da criação da terra. De uma forma básica, no Candomblé não existem "incorporações" de espíritos, pois os Orisà, de quem sentimos força e vibrações, são energias puras da natureza, que não passaram pela vida, ou seja, não são "entidades", mas elementar puro da natureza, criados por Olorún. No Candomblé a consulta é feita através da leitura do jogo de búzios (no Brasil), forma de leitura exclusiva do povo candomblecista (que trataremos em outro tópico), e o tratamento para cada caso, é feitos com elementos da natureza, oriundos do reino vegetal, animal e mineral, através de ebó, oferendas, Oró (segredos) e rituais africanos. A Umbanda por sua vez, sem qualquer demérito a quem a pratica, pois se levada de uma forma séria e consciente tem seu mérito, valor e aplicação, é uma religião brasileira, que advém do sincretismo católico-fetichista, necessário em uma época de grande repressão das religiões africanas, em que era proibido o culto dos Orisà na sua forma de origem, e esta adaptação se fez necessária, a partir desta premissa, a Umbanda começou tomar corpo, com algum conhecimento de alguns africanos no trato com seus ancestrais, que era comum a "incorporação" de algum ente falecido, por um elégún (aquele que é montado por) por motivos familiares. É muito comum nos dias de hoje, mas é uma atitude não compactuada com o Candomblé, bem como a utilização do sincretismo com os santos católicos, pelas tradicionais Casas de Candomblé cujas raízes foram plantadas no Nordeste do país, mais precisamente em Pernambuco. A Umbanda por sua vez, a consulta é feita através de um médium "incorporado" , e os "trabalhos" pelo espírito ali incorporado com seus elementos rituais.
A verdade a qualquer custo:
Umbanda é deste século, e utiliza o nome dos Orisà do Candomblé, sob outra forma e outro aspecto, em especial, vou me ater à figura de Esù. Na sua qualidade de ser ambivalente, positivo e negativo, bem e mal, de uma forma definitiva, esta situação de bem e mal, também está associado a todos os seres humanos, e nem por isso, somos o diabo, ninguém é totalmente bom, 24 horas por dia, 365 dias por ano, a sua vinda inteira; o inverso também é verdadeiro, convivemos com o bem e o mal, porém Esù, na sua condição, só fará alguma coisa, se e somente se, for mandado, portanto quem faz o mal na realidade é quem pede, e que pela própria lei da natureza, pagará, pois segundo a lei mais certa que existe, a lei do retorno - "Toda ação gera uma reação, com a mesma intensidade, em sentido contrário", quer dizer, tudo que vai, volta, a experiência nos comprova isto, e geralmente, da forma que mais dói, no bolso ou na saúde (tarda, mas não falha); isso posto, em quem está a maldade? Sem mandante, ela simplesmente não existiria, e, mais uma vez ESÙ PAGA O PATO. Em mais de trinta anos de pesquisa, e não foi pouca, sobre religiões africanas, sejam brasileiros, ingleses, franceses, africanos, babalorisà, iyàlorisà, antropólogos, arqueólogos, babalawó, nunca vi nada que se referisse a Esù mulher, ao contrário, sua forma é fálica (forma de pênis), sempre no sentido de elemento fecundador, fertilizador e nunca elemento fecundado, nunca houve qualquer simbolismo ou ligação “diferente”, em sua ambivalência, assume situações duplas, mas nunca, macho e fêmea. Tudo se inicia, com a palavra Pambu Njila, que é o nome dado a Esù macho por excelência na nação de Angola, uma corruptela desta palavra, utilizada somente pela Umbanda, gerou a expressão "pombogira", como forma de um Esù mulher, em cuja manifestação, a pessoa, seja homem ou mulher, assume uma atitude, atrevida e em alguns lugares, sob esta manifestação, é muito comum, ou até mesmo por necessidade, toma atitudes lembrando a prostituição, aí dizem que é porque uma pombagira está "encostada", o que não seria uma situação normal, natural; A POMBA GIRA PAGA O PATO. Qualquer incorporação, deste gênero, que se fale com as pessoas, beba ou fume em público, não é Candomblé, é Umbanda; a única manifestação "semelhante" no Candomblé é a figura do Eré (Erê), que, assim como o Orisà, é um elemento da natureza, com uma conduta infantilizada, e que nunca passou pela vida, portanto não é um egun (espírito de morto), tem função específica, uma delas é se comunicar pelo Orisà, justamente pelo fato de que ele (Orisà) não fala em português, somente em africano (yorubá) no qual nos referimos como "estado de eré", tal pessoa está com, ou de eré (erê).
A incorporação, eu imagino, vem da necessidade do ser humano (que é incrédulo por natureza), de crer e confiar, e para crer, tem que "ver" algo, no caso o espírito manifestado, falar com ele, ouvir coisas que confirmem ser real (o que muitas vezes acontece), e para confiar, o consultor não poderá se "lembrar" do que ouviu, como confidência, ou segredo, pois em várias situações, estão envolvidos, conversas e pedidos secretos, se utilizando assim da "inconsciência" relatada nas religiões africanas, a qual também a colocarei, em outro tópico da forma como a vejo e sinto. Falo com muita propriedade e experiência, pela vivência de muitos anos no meio, o objetivo não é em momento algum, desmascarar quem quer que seja, muito menos denegrir, desmerecer ou tirar o valor da Umbanda, muito pelo contrário, a Umbanda bem praticada e bem conduzida, tem enorme valor e função social na comunidade, quer seja: na solução de problemas de saúde, família, trabalho, amor... Existe forte vibração de uma energia, no ato da "incorporação", variando muito de pessoa para pessoa, em muitos casos, com real valor e força, porém, Candomblé e Umbanda são religiões diferentes, isso é um fato que gostaria de deixar claro, a medida em que nada temos que esconder.
Mo Júbá