* Mãe Sheila é Iyàlorisà. Foi iniciada no Rio de Janeiro em 1976 por Josertina da Cruz Lessa (Mameto Oya Ice), filha de santo de MonaDewi, também conhecida como Vó Nanã, fundadora de uma conceituada casa de tradição Banto em Aracajú-SE da raiz Bate Folha. Na década de 80 passou a fazer parte da nação Ketu ao tomar suas obrigaçõs na raiz do Gantois. Em 1993, fundou sua "Casa de Santo", o Ilé Àse Àáfin Àbàmì Òsun, em Campos Elisios - Duque de Caxias, região metropolitana do Rio de Janeiro, onde funcionou por alguns anos, e hoje é situada na Vila Angélica, Chácara 87 da QD 47 - Jardim Recreio - Piabetá, é divulgadora e defensora da Cultura Afro e Afro-brasileira. Desenvolve um trabalho comunitário bem como de exclarecimento e entendimento aos seus filhos de santo, e procura informar ao máximo o povo em geral, através de programas de rádio e palestras, a respeito da cultura e da religiosidade afro que já foi tão reprimida no passado, e é discriminada ainda nos dias de hoje.

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

ONILÈ – Divindade da Terra

 

Onilè é uma divindade relacionada aos aspectos essenciais da natureza, e originalmente exercia seu patronato sobre tudo que se relaciona à apropriação da natureza pelo homem, o que inclui a agricultura, a caça e a pesca e a própria fertilidade. Com as transformações da sociedade yoruba numa sociedade patriarcal ou patrilinear, que implicou a constituição de linhagens e clãs familiares fundados e chefiados por antepassados masculinos, as mulheres perderam o antigo poder que tiveram numa primeira etapa (um mito relata que, numa disputa entre Oyà e Ogum, os homens teriam arrebatado o poder que era antes de domínio das mulheres).

 



Os antepassados divinizados tomaram o lugar das divindades primordiais e houve uma re- divisão de trabalho entre os Orisà. As divindades femininas antigas tiveram então seu culto reorganizado em torno de “entidades” femininas genéricas, as Iyà-Mi-Osorongà, consideradas “bruxas maléficas” pelo fato de representarem sempre um perigo para o poderio masculino, e vários Orisà tiveram dividido entre si as atribuições de zelar pela Terra, agora dividida em diferentes governos: o subsolo ficou para Omolu, Obaluayé e para Ogun, o solo para Orisà Oko e Ogun, a vegetação e a caça para os Odè e Osanyin e assim por diante. A fertilidade das mulheres foi o atributo que restou às divindades femininas, já que é a mulher que pari, que reproduz e dá continuidade à vida. Constituiriam se elas, então, em Orisà dos rios, representando a própria água, que fertiliza a terra e permite a vida: são as Iyabà Yemanjà, Osun, Oba, Oyà, Ewa e outras, também Nanã, que como antiga divindade da terra, representa a lama do fundo do rio, simbolizando a fertilização da terra pela água.
Onilè teve seu culto preservado na África, mas perdendo muitas das antigas atribuições. Hoje ela representa nossa ligação elemental com o planeta em que vivemos, nossa origem primal. É a base de sustenção da vida, é o nosso mundo material. Embora sua importância seja crucial do ponto de vista da concepção religiosa de universo, os devotos a ela pouco recorrem, pois seu culto não trata de aspectos particulares do mundo e da vida cotidiana, preferindo cada um dirigir-se aos Orisà que cuidam desses aspectos específicos. No Brasil, como aconteceu com outros Orisà, seu culto quase que desapareceu. Certamente um fator que contribuiu para o esquecimento de Onilè no Brasil é o fato de que este Orisà não se manifesta através do transe ritual, não incorpora, não dança. Outros Orisà importantes na África e que também não se manifestam no corpo de iniciados foram igualmente menos considerado neste País que, por influência do kardecismo, atribui um valor muito especial ao transe. Foi o que aconteceu com Orunmilà, Odudua, Orisà Oko, Ajalá, além da Iyà-Mi-Osorongà. É interessante lembrar que o culto de Osanyin sofreu no Brasil grande mudança, passando o Orisà das folhas a se manifestar no transe, o que o livrou certamente do esquecimento. O culto da árvore Iroko também se preservou entre nós, ainda que raramente, quando ganhou filhos e se manifestou em transe, sorte que não teve Apaokà

Na Nigéria mantém-se viva a ideia de que Onilè é a base de toda a vida, tanto que, quando se faz um juramento, jura-se por Onilè. Nessas ocasiões, é ainda costume pôr na boca alguns grãos de terra, às vezes dissolvida na água que se bebe para selar a jura, para lembrar que tudo começa com Onilè, a Terra Mãe, tanto na vida como na morte.

Um mito que terei prazer de contar em outras ocasiões, a qual é a atribuição principal de Onilè, como ela está associada ao chão que pisamos e sobre o qual vivemos nós e todos os seres vivos que formam o nosso habitat no nosso mundo material.



Creio que parte dos seguidores do candomblé nunca ouviu falar ou teve apenas vagas referências sobre Onilè, mas em certos candomblés de nação queto, que preservam ou reconstituem tradições que em grande parte se perderam na diáspora yorubana, pratica-se um culto discreto mas significativo à Terra Mãe, para a qual se canta, ou no início do xirê ou no final da chamada roda de Xangô, a cantiga que diz "Mojubà, Orisà / ibà, Orisà/ ibà Onilè", que pode ser traduzido como "Eu saúdo o Orisà/ Saúdo Onilè/ Salve a Senhora da Terra". 
**Onilè, isto é, a Terra, tem muitos inimigos que a exploram e podem destruí-la. Para muitos seguidores da religião dos Orisà, interessados em recuperar a relação Orisà-natureza, o culto de Onilè representaria, assim, a preocupação com a preservação da própria humanidade e de tudo que há em seu mundo. Pois é Onilè quem guarda o planeta e tudo que há sobre ele, protegendo o mundo em que vivemos e possibilitando a própria vida de tudo que vive sobre a Terra, as plantas, os bichos e a humanidade.

Àse

2 comentários:

  1. Parabéns mãe, está ótimo seu blog.
    Estou adorando ler tudo.
    Obrigada por essa oportunidade.
    Bjos no seu coração

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  2. Adorei o blog!!!
    é sempre muito aprender!

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